29 de junho de 2011

NA CONTRA-MARCHA DA HISTÓRIA

No blogue Democracia e Socialismo, o amigo Adelson manifestou a opinião dele favorável à "descriminação da maconha". Deixei minha resposta sob o "post" dele e aproveito para reproduzi-la aqui com acréscimos.
Confesso que já estou cansado dessas reivindicações por "liberdade" disso e daquilo. Os movimentos de protesto e reinvidicação deste século, sintomaticamente, clamam pela "criação" de direitos para lá de contestáveis. As reivindicações das chamadas "minorias" (palavra que esconde mais do que revela) perderam muito de seu justificado clamor por igualdade de tratamento pelo Estado e transformaram-se em estratégias retóricas para a obtenção de privilégios. Tudo muito de acordo com a lógica neo-liberal das últimas décadas, período de rápido desenvolvimento de tais movimentos (sugestão de leitura: "As Ilusões do Pós-Modernismo", de Terry Eagleton).
É bastante suspeito este afã em reivindicar mudanças culturais, comportamentais e/ou éticas pela via jurídica e legal. Esse exagero esconde interesses comerciais, lobistas e hedonísticos, ou seja, é a  lógica do capital por trás dos atos dos "indignados", das marchas, dos gritos por "liberdade" (a palavra mais estuprada pela retórica liberal).
Certos padrões de comportamento, de moral e ética, historicamente desenvolvidos, são mecanismos criados com intenções de manter o funcionamento social, e nem sempre devem ser vistos como opressão e falta de "liberdade". A apropriação indevida do pensamento de certos autores (Foucault, Gramsci, Althusser...) fomenta os argumentos de "denúncia" da segregação, do desrespeito, da injustiça, desconsiderando que o pensamento original de tais autores se dá em um contexto maior, a partir das relações entre elementos inseridos em uma estrutura maior, globalizante. Assim, a constatação de processos de repressão sobre certos grupos ou indivíduos deveria ser pensada como ponto de partida para redimensionar toda a estrutura que promove e sustenta tais processos, que são concretizados pelas forças do capital, pela ideologia burguesa e liberal que os legitimam.
A proliferação de Marchas que vem ocorrendo tem seu lado positivo e progressista, mas há muito de oportunismo deliberado, de leviandade disfarçada em "belas causas", de autismo social em cada uma delas. Reproduz-se a forma mitificada das passeatas históricas para cada um vender seu peixe ou o pirão feito primeiro.