15 de novembro de 2011

ROCINHA, NEYMAR E O SHOPPING RIO 2014-16


            Nos capítulos desta semana da telenovela jornalística, o cenário principal é a Rocinha, com os mocinhos da vez salvando um monte de gente boa e promovendo a paz na "comunidade". Uma cena comovente foi a que aparece a bandeira verde-amarela, que a "brisa do Brasil beija e balança". Os leitores-espectadores, em grande parte, aplaudem e respiram aliviados, comemorando nem sabem direito o quê.
            Mas a ficção se baseia em fatos "reais", e aí são outros quinhentos. Todo esse faroeste caboclo sem tiroteios ou mortes arrebatadoras é uma orquestração ditada pela dona FIFA para deixar o Rio de Janeiro igualzinho ao que dizem os textos dos folhetos turísticos: a "Cidade Maravilhosa" e seu povo alegre e festeiro são únicos no mundo.
            Um vídeo no YouTube, com uma gravação de voz do deputado exilado Marcelo Freixo, sintetiza tudo. Ele explica que as UPP's significam o "policiamento da vida comunitária" e a militarização do espaço público. Mais ainda: "o mapa das UPP's é muito revelador. É o corredor hoteleiro da Zona Sul, é o entorno do Maracanã, é Cidade de Deus em Jacarepaguá e a Zona Portuária". Ou seja, é preciso arrumar a casa para receber a elite turística que invadirá o Rio em 2014-16. Não há nada de projeto de segurança pública, trata-se apenas de deslocamento do problema. Se o bode na sala começa a feder, coloquem-no no quarto. A exibição da bandeira na Rocinha é motivo de vergonha. Afinal, é como se o Estado somente agora ali chegasse (o que é quase uma verdade inteira) e somente agora se tornassem "brasileiros".
            Outro núcleo da telenovela tem como protagonista o jovem Neymar, que "preferiu ficar em seu país e em seu clube do coração do que ir para a sedutora Europa". Em verdade, a possibilidade, a médio e longo prazo, de faturar aqui com salário, direito de imagem e publicidade (dentre outros) é muito maior do que no falido Velho Mundo. Além do que, aqui o jovem é estrela de primeira grandeza, lá, seria figurante. Até porque não se sabe se o desempenho dele seria o mesmo daqui e se o tratamento deslumbrado que ele aqui recebe aconteceria lá também.
            As megaempresas precisam de um garoto propaganda que potencialize suas marcas e ninguém melhor do que o produto Neymar, bom filho, bom pai, bom moço, jogador de lances malabarísticos e cujo moicano virou febre entre adolescentes de 5 a 55 anos. Mercadoria mais bem acabada da indústria do futebol, Neymar é a cereja no bolo da FIFA 2014.
            Para a poderosa FIFA, está tudo em paz.