10 de dezembro de 2012

MELANCOLIA, de Lars Von Trier

Microrresenha  para lá de  subjetiva sobre o filme de Von Trier ou Apreciações sobre a teoria da narrativa.

Assisti ontem ao filme Melancolia (2011) e a sensação geral que me ficou foi a de que o filme é bonito e impactante, o elenco é competente e estrelado, o roteiro é interessante, mas o resultado final é que a pretensão e a artificialidade pesam mais (e negativamente) do que suas virtudes.
Existem filmes (e livros também) que parecem ser feitos para agradar a crítica, de tal modo que o ritmo, as imagens, as cenas vão surgindo como se já houvesse ali uma metáfora pronta, indicações explícitas dos subtextos, dos níveis de profundidade da obra. É uma espécie de obra aberta invertida. Em vez de o espectador (ou leitor) ir em busca das conotações da obra, a própria obra já lhe dá de bandeja todas suas possíveis aberturas.
Dito de outro jeito, uma narrativa é pensada a partir de situações (ações que geram reações e daí a intriga, o conflito, o humor, o suspense etc.) que se sucedem em direção a um desfecho. Seja o final esclarecedor ou não, é fato que em algum ponto a narrativa acaba (ou pelo menos a narração, como gostam de distinguir os teóricos da narrativa).
Uma narrativa também é, por sua própria economia, sintética e excludente. Por mais que virtuosismos possam querer contestar esta condição (como o Last Days, de Gus Van Sant, que simula ser um filme "sem roteiro"), o que temos nesses casos é a exceção a confirmar a regra. Daí que os personagens, o cenário, os objetos, os diálogos não estão em um roteiro por acaso, ou por um desejo aleatório qualquer, mas são escolhidos e ordenados (montados) para compor o resultado final do tipo de história que se pretende contar.
Acontece que nas últimas décadas incontáveis criadores têm se especializado em elaborar suas histórias já de olho na crítica que sairá nos jornais, revistas ou artigos acadêmicos. A história, então, deixa de fluir em sua naturalidade lógica e passa a ser remontada para atender a leitura dos críticos. E dá-lhe simbologia forçada.

28 de novembro de 2012

CONTO "O TRIÂNGULO"

O TRIÂNGULO

1.
            A primeira coisa que Piolho quis quando acordou foi beber uma Coca-Cola bem gelada. A garganta estava seca, a cabeça tonta, a sensação de cansaço era enorme e ele não fazia ideia de quanto tempo dormira. O quarto de Tranquilo era um cafofo dos piores, só chão, janela e umas caixas de papelão com um monte de traste.
            Pegou uma garrafa de refrigerante com um líquido dentro e tentou beber, mas quando sentiu o cheiro percebeu que aquilo era o mictório de Tranquilo e jogou aquela porcaria toda no chão, irritado. Deu um suspiro profundo e tentou organizar as ideias.
            Precisava beber alguma coisa... e depois?
            Demorou alguns segundos e pensou em Tatinha. Aquela sacana tava achando que ele era palhaço e espalhando nas quebradas que ele não era mais homem, que tava desgostando da coisa. Vê se pode!? Que vacilona.

17 de outubro de 2012

FÁBULAS PRA BOI DORMIR #1

Meu amigo Zé Orósio, em suas horas de folga, é candidato a sucessor do Millôr Fernandes. Reproduzo aqui uma de suas Fábulas Pra Boi Dormir, publicada no saudoso Botequim do Zé (http://botequimdoze.zip.net/).

O MICO-LEÃO-PRETO

         A Jibóia e a Sucuri discutiam agitadamente à beira de um rio sobre as eleições nas Selvas Unidas.
         - Eu vou votar no Mico-Leão-Dourado porque ele me prometeu uma vaga de fiscal na Secretaria das Aves Suculentas! – babava a Jibóia.
         - Que é isso, amiga rastejante... Tá certo que uma oferta dessas é irrecusável, mas esse governo não pode continuar porque só faz cagada, uma atrás da outra. Meu voto é do Mico-Leão-Preto – dizia a Sucuri.
         - Mas querida Susu, nós nunca tivemos um Mico-Preto no governo, será que ele é confiável?
         - Dona Jiji, minha filha, vai por mim. Só muda a cor do pêlo, por baixo é tudo igual, além disso, ele também oferece umas vaguinhas boas pra gente da nossa espécie.
         - Uau! – tremelicou a Jibóia.
         E enquanto as duas afastavam-se alegres e combinadas, a Coruja lá de cima preparava-se pra avisar as outras aves para continuarem mais quatro anos bem longe daquela área.

         MORAL: quando duas cobras brigam, as pererecas pagam o pato.

11 de setembro de 2012

AFINAL, O QUE (NÃO) É ARTE?


por Fábio Elionar

A série de vídeos aqui publicada (Tudo é Remix) e um debate em uma rede social me motivaram a comentar um pouco mais a questão do que é arte, do que não é arte, do que é melhor ou pior artisticamente falando, mas é claro que não tenho a pretensão de encerrar o assunto, quero apenas colocar a questão em pontos específicos para que não se confundam. 
Acho possível separar o tema em dois pontos de vista complementares. De um lado teríamos a questão do conceito de Arte, que é uma questão teórica. De outro, temos o ponto de vista do gosto, da apreciação crítica, da recepção estética da obra.

2 de setembro de 2012

TUDO É REMIX, parte 4 (final)

Everything is a remix, parte 4.
Direção de Kirby Ferguson.

TUDO É REMIX, parte 3

Este é o terceiro episódio de um total de quatro.
Everything is a remix (dir.: Kirby Ferguson).


TUDO É REMIX (4 episódios)

Esta série, de Kirby Ferguson, aborda a questão do processo de criação enfatizando o quanto as trocas, empréstimos e cópias são fundamentais para que um produto se concretize, seja uma música, um filme ou um invento tecnológico.
Uma virtude desse vídeo é derrubar o falso mito da originalidade e a ideia do gênio criador, ambas fortemente desenvolvidas na era romântica (século XIX). A mentalidade romântico-burguesa trabalha com essa ideia de que a arte deve ser "original", sem qualquer remissão ao passado ou à tradição. Daí a esquizofrenia de certos momentos e de certas criações, que busca com extravagante desespero a novidade, a tal ponto de este critério ser o mais importante na apreciação da obra de arte, em detrimento de outros como a técnica, o deleite estético, o engenho, a emoção etc. O resultado disto é que a arte se afasta de sua realidade concreta, objetal, e passa a ser apenas uma ideia um conceito.
Contrário a isto é o gosto clássico, que valoriza o aprendizado dos modelos tidos como elevados. Uma crítica a esta proposta é que o apreço pela tradição gera um conservadorismo que em casos mais radicais tende a engessar a arte e a criação. Quando tocam o ponto extremo, em ambos os casos (o romântico e o clássico), as duas estéticas correm riscos e produzem problemas. Talvez a força das grandes obras esteja na sua capacidade de desenvolver com destreza os princípios desta ou daquela estética ou, até mesmo, por conciliar um pouco de cada uma.

Assista ao primeiro episódio (clique aqui).

Abaixo, o segundo episódio da série.








29 de agosto de 2012

SOBRE ABORTO, PATERNIDADE, DIREITOS...

A questão do aborto, como todo tema polêmico por natureza, é difícil de ser abordada, até mesmo porque os envolvidos costumam posicionar-se a partir de seu ponto de vista concreto como ser social e tendem a exaltar-se e perder o senso de tolerância necessário ao debate de assuntos desse tipo.
O assunto envolve aspectos éticos, legais, morais, religiosos, financeiros etc., sendo que cada aspecto desses possui seus argumentos para lá de coerentes e justificáveis. Daí a dificuldade em conciliar as partes. 
Particularmente, entendo que já passou da hora de o Estado adotar medidas legais para combater este problema, que é de saúde pública e, portanto, é um direito das cidadãs brasileiras no cuidado com seu corpo e sua saúde.

30 de julho de 2012

UMA DESFEITA AO BRASIL

Mauro Santayan é sempre certeiro em suas análises sobre o Brasil e o cenário político mundial. Com a precisão de sempre resumiu a biografia de Marina Silva e classificou-a com perfeição. Santayana é, hoje, uma das raras vozes lúcidas na webesfera.

UMA DESFEITA AO BRASIL (publicado em http://www.maurosantayana.com/2012/07/uma-desfeita-ao-brasil.html - 30/07/2012)
por MAURO SANTAYANA

A senhora Marina Silva é um caso típico de como as virtudes enganam. Ela surgiu na vida pública brasileira como a pobre menina da floresta, que se torna ativa militante da causa ambiental, entra para a política ainda muito jovem, dentro do PT; é eleita senadora pelo Acre; torna-se Ministra, e chega a candidatar-se, sem êxito, à Presidência da República. Trata-se de uma biografia virtuosa. Marina é militante de uma causa vista como nobre, a da defesa da natureza. Mas não se pode dizer, com o mesmo reconhecimento, de que se trata de uma boa brasileira. Marina é hoje, e é preciso dizer, uma patriota do mundo. Nenhum brasileiro, vivo ou morto, foi tão homenageado pelos mais poderosos governos estrangeiros e organizações não governamentais do que esta senhora, ainda relativamente jovem.
Ela, ao militar pela natureza universal, não tem servido realmente ao Brasil e à sua soberania. O Brasil, com o apoio, direto ou indireto, da senhora Silva, tem sido acusado de destruir a natureza. Quando seu companheiro de idéias, Chico Mendes, foi assassinado em Xapuri, o New York Times chegou a dizer que o mundo iria respirar pior, a partir de então. A tese do jornal, já desmentida pela ciência não engajada, era a de que a Amazônia é o pulmão do mundo. Assim, a cada árvore abatida, menos oxigênio estaria disponível para os seres vivos.
Marina Silva transita à vontade pelos salões da aristocracia européia e norte-americana. É homenageada, com freqüência, pelas grandes ongs, como a WWF, que contava, até há pouco, com o caçador de ursos e de elefantes, o Rei Juan Carlos, da Espanha, como uma de suas principais personalidades. Na melhor das hipóteses, a senhora Marina Silva é ingênua, inocente útil, o que é comum nas manobras políticas internacionais. Na outra hipótese, ela sabe que está sendo usada para enfraquecer a posição da nação quanto à defesa de sua prerrogativa de exercer plenamente a soberania sobre o nosso território.
Ainda agora, a ex-candidata a Presidente acaba de ser homenageada pelos organizadores londrinos dos Jogos Olímpicos, como convidada de destaque, ao lado de outras personalidades mundiais, a maioria delas diretamente ligadas às atividades esportivas, o que não é o seu caso. Para quem conhece os códigos da linguagem diplomática, tratou-se de uma desfeita ao Brasil, como país soberano, e, de forma bem clara, à Presidente Dilma Roussef. Dilma, com elegância, declarou-se feliz pela homenagem à sua adversária nas eleições presidenciais de 2010, e que permanece militando na oposição ao atual governo. A Chefe de Estado, que ali representava a nação inteira, e não ongs interessadas em retardar o desenvolvimento autônomo do Brasil, não assinou recibo pela aleivosia de uma Inglaterra decadente, contra um Brasil que cresce no respeito do mundo.

23 de junho de 2012

POEMICOS


Aos poucos vou preparando minha candidatura à vaga do Sarney na ABL.
A quadrinha fui eu que cometi, mas a bela xilogravura é de Sérgio Sá, copiada do blog Rede Cordel (http://culturadigital.br/cordelonline/2010/05/20/a-hostoria-do-cordel/ ).

21 de maio de 2012

O JORNALISMO E A SOCIEDADE BURGUESA

Este texto, de Jaime Amparo Alves, faz uma ótima exposição da essência do jornalismo na sociedade burguesa, que é algo distinto da falsa ideia de entidade independente e fiscalizadora do espaço público. De acordo com o autor, a imprensa é "democrática", sim, mas aqui a democracia é entendida como um mecanismo controlado pelas elites dominantes. 

FONTE: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
Linque: 

REPRODUÇÃO DO TEXTO:

JORNALISMO LOMBROSIANO

A ditadura dos mass media e a esfera pública

Por Jaime Amparo Alves em 15/05/2012 na edição 694
    
Não é de hoje que a revista Veja figura entre as piores práticas do jornalismo brasileiro. As reportagens semanais da revista são, por si só, uma aula de antijornalismo para os interessados em conceitos básicos da ética profissional de uma categoria que representa um dos maiores desafios à consolidação da democracia no Brasil. O paradoxo aqui é proposital: se o jornalismo é visto como a salvaguarda da democracia ocidental no conceito iluminista de esfera pública, na prática é essa categoria de “homens bons” que põe um impasse ao projeto iluminista de uma esfera pública plural onde todos os cidadãos comungariam de igual acesso à informação, ao controle da administração pública e em defesa do bem comum. Na modernidade capitalista, a esfera pública midiática seria o lugar, por excelência, da defesa da liberdade de expressão e do livre exercício da autonomia individual e ninguém melhor do que o jornalista para assumir para si a tarefa de defesa de tais princípios.
No seu nascedouro, a imprensa brasileira traz consigo a tradição iluminista europeia. De Evaristo da Veiga a Carlos Larcerda, de Samuel Wainer a Policarpo Junior, o percurso do jornalismo verde-amarelo permite identificar tanto a defesa intransigente da “liberdade” quanto a sua liquidação a varejo nas antessalas do poder. Falta-me competência para fazer uma revisão historiográfica da imprensa nacional. Nelson Werneck Sodré e Venício Lima, entre outros, têm trabalhos desvendado com maestria os meandros do jornalismo brasileiro e os desdobramentos práticos da relação insidiosa entre mídia e Estado.
Fascismo social
Meu objetivo aqui é bem mais modesto: quero chamar a atenção do leitor para a “coerência” entre as práticas criminosas da revista Veja e os fundamentos iluministas do jornalismo ocidental. Isso mesmo, não há nada de contraditório entre o jornalismo criminoso de Veja e os fundamentos iluministas do jornalismo como projeto político-ideológico. Assim como a imprensa burguesa europeia se definiu como o veículo das Luzes a serviço do capitalismo – em contraposição à Idade das Trevas do período medieval –, o fazer jornalístico entre nós nunca serviu aos interesses daqueles tidos como inferiores. Não porque os jornalistas sejam uma espécie sem coração, mas porque a prática jornalística em si traz um defeito de nascença: um projeto de sociedade fundado nas hierarquias sociais e naquilo que Hans Magnus Enzensberger chamou apropriadamente de “indústria da consciência”. O jornalismo nada mais é do que um recorte do tempo e do espaço de acordo com os interesses dos donos dos meios de produção da notícia e a notícia, como Cremilda Medina tem nos lembrado, é mercadoria/commodity que expressa as relações de poder na sociedade.
Levar Roberto Civita aos tribunais e fazer a revista Veja apodrecer nas bancas faria muito bem à democracia brasileira. Mas aí reside o percalço político e a armadilha do nosso tempo no que diz respeito à comunicação de massa no Brasil. A palavra “democracia” é tão carente de sentido e empregada de maneira tão porca pelos representantes dos mass media que a legitimidade do termo reside exatamente na “tolerância” com as práticas criminosas cotidianas atrás das máscaras de outro termo, a “liberdade de expressão”.
O poder dos seus representantes em redefinir a palavra “liberdade” a partir dos seus interesses corporativos põe a mídia brasileira na vanguarda do que poderia ser chamado de ditadura midiática. Neste sentido, o sofisticado discurso dos seus agentes (os gatekeepers) também coloca um desafio extra aos grupos sociais pela democratização dos meios: ninguém em sã consciência iria se opor à liberdade de imprensa, mas como lutar contra as práticas enraizadas em um conceito historicamente ligado ao fascismo social no Brasil? Senão ditadores sanguinários e radicais esquerdistas, qual outro adjetivo para desqualificar os críticos da atividade jornalística e da concentração dos meios de comunicação?
Campos de privilégios
Para além de Veja, jornalões como a Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo têm se especializado na cantilena contra qualquer controle público sobre a atividade jornalística. O paradoxo aqui é que a crítica ao controle externo não se sustenta quando contrastada com as relações de subordinação interna nas redações. Roberto Civita tem controle absoluto sobre a atividade jornalística de Policarpo Júnior, assim como Ali Kamel tem dos seus subalternos no Jornal Nacional. Em outras palavras, não é a ameaça à liberdade de imprensa o que tira o sono dos “executivos” da mídia brasileira; é, sim, a ameaça à liberdade de empresa.
As reações dos conglomerados de mídia à Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), por exemplo, realizada durante o governo do ex-presidente Lula da Silva, e ao Plano Nacional de Direitos Humanos, do mesmo governo, foram sintomáticas do campo político-ideológico representado pelos donos dos principais jornais e TVs do país.
Como têm mostrado os movimentos sociais pela democratização dos meios de comunicação, a reação da mídia à Confecom é um retrato fiel da sua ética da conveniência: a esfera pública tão propalada como o espaço da sociedade civil em contraposição a um Estado autoritário não vale como espaço para o debate de ideias e o controle social da mídia e a liberdade de expressão é ressignificado como liberdade dos donos dos meios de produção da notícia.
O que os movimentos sociais pela democratização da mídia precisam considerar, no entanto, é que não há incongruência/incoerência entre a prática jornalística em tais meios e a sua “vocação autoritária” em banir da esfera pública as vozes dissonantes. Simplesmente, a democracia liberal defendida em suas linhas editoriais não rima com a democracia substantiva das ruas. Ou, para ser ainda mais direto, para as redações, palavras como “democracia” e “liberdade” são campos estratégicos de privilégios e de dominação.
Perguntas incômodas
Ainda assim, a relação incestuosa entre a revista Veja e a turma de Goiás tem muito a nos ensinar. Se não é segredo para ninguém que a Veja traz em seu bojo uma história de horrores que vai da Escola Base ao seu envolvimento com empresas do regime apartheid sul-africano, e se é verdade que a revista semanal se tornou uma especialista na criminalização dos movimentos sociais criando uma escola própria de jornalismo lombrosiano – as capas de Veja dão combustíveis ideológicos para o assassinato dos trabalhadores rurais, tidos como “invasores” e “baderneiros”, legitimam a violência policial associando agentes/protagonistas da violência urbana com “terroristas”, sustentam as desigualdades raciais negando a existência do racismo –, há uma série de perguntas óbvias que nem os ministérios da Justiça e das Comunicações, nem o parlamento brasileiro farão porque seus representantes são reféns da meia dúzia de homens do eixo Rio-São Paulo que fariam Rupert Murdoch corarde vergonha.
Aqui vão algumas perguntas que, se respondidas, fariam bem à consolidação da democracia brasileira:
1.Ainda que limitadíssimos, a Constituição de 1988 tem dispositivos legais de regulamentação da comunicação social no país. Os artigos 54, 221, 222, 223 e 224 da Constituição Federal determinam os parâmetros a serem seguidos pelos concessionários públicos de radiodifusão. Ainda assim, os meios gozam de uma liberdade absoluta em relação aos agentes fiscalizadores, embora os casos de violação à Carta Magna estejam aí para qualquer um ver. Para começar: por que o Ministério das Comunicações não cassa as outorgas de rádio e televisão paradeputados e senadores – muitas em nome de laranjas –, uma vez que o artigo 54 da Constituição Federal proíbe parlamentares de “serem proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoas jurídicas de direito público, ou nela exercer função remunerada”?Não seria hora do Ministério Público propor a cassação das outorgas e denunciar os órgãos governamentais de fiscalização por omissão e cumplicidade com tais práticas?
2. O artigo 224 da CF, e posteriormente a Lei no.8389, de 30/12/1991, instituiu o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional que, pelo menos na teoria, deveria acompanhar as decisões do governo federal no que diz respeito às renovações ou cassações de televisão e radiofonia. No entanto, enquanto as rádios comunitárias são sufocadas pelas ações arbitrárias da Polícia Federal, a mídia corporativa goza de licença operacional permanente e automática. Não há publicização dos prazos de renovação, muito menos avaliação dos veículos pelos parlamentares. Os poucos parlamentares que ousaram enfrentar os conglomerados de mídia nacional caíram de joelhos, morreram só. Afinal, alguém saberia dizer onde está o chamado Conselho de Comunicação Social, previsto na Constituição de 1988? O que tais práticas revelam/escondem sobre a natureza da democracia brasileira e a tirania dos meios? A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), deliberou pela criação de Conselhos de Comunicação Social nos estados brasileiros e não demorou muito para o pânico moral ser instalado nas redações dos vigias da democracia. Não seria a hora do Congresso Nacional seguir a legislação, ouvir a voz das ruas e regulamentar tal proposta?
3. Jornalistas não são deuses e não podem ter salvo-conduto para cometer crimes em nome da liberdade de imprensa. A ética no jornalismo é assunto de interesse de toda a sociedade. Por que o Congresso Nacional cedeu à pressão das entidades patronais e engavetou o projeto que cria o Conselho Federal de Jornalismo proposto pela própria Fenaj? A iniciativa protegeria a categoria do assédio moral dos patrões e colocaria o fazer jornalístico sob o controle público. Jornalistas e sociedade ganhariam com a medida porque ela resgataria o caráter de serviço público da atividade profissional da imprensa;
4. Na prática, são as verbas públicas que acabam financiando os crimes cometidos pela imprensa brasileira. Os governos estaduais e federal não apenas divulgam os produtos das estatais brasileiras nas páginas dos grandes conglomerados como também possuem uma tradição de publicidade governamental nos já concentrados meios de comunicação por razões óbvias. As transferências milionárias entre o governo do estado de São Paulo e a Editora Abril reveladas pelo portal R7, na gestão do ex-governador José Serra, são apenas exemplo de como os cofres públicos abastecem os projetos de fascismo social da grande mídia. No plano federal, os contratos do Ministério da Educação com editoras dos grupos de mídia impressa, para não falar das linhas de crédito do BNDES a emissoras de televisão, desafiam a retórica de um governo supostamente comprometido com o fortalecimento de canais alternativos. Não seria a hora de usar as verbas publicitárias da administração pública a partir de um parâmetro que privilegie o nascimento de veículos de imprensa alternativos e de valorização da pluralidade de ideias?
Ficção jornalística e jornalismo-ficção
O leitor poderá agora lembrar-me que minha crítica à imprensa desemboca na justificativa das ditaduras, na censura e morte de jornalistas. Ave Maria, mangalô três vezes! Essa não é a questão aqui. Mas... O Leviatã que amedronta a imprensa brasileira tem pouco a ver com o Estado autoritário, até porque foi sob a “confortável” sombra da ditadura militar que Globo, Folha de S.Paulo e Veja, para nomear algumas, se transformaram nos atuais negócios de mídia.
Um rápido olhar nos editoriais dos principais jornais do país, às vésperas do golpe militar de 1964, ajuda a entender como o pânico moral dirigido pela mídia contra o governo João Goulart produziuo monstro que mais tarde iria devorar alguns dos seus representantes. Igualmente, o empenho das Organizações Globo, Folha de S.Paulo, Veja e Estadão em eleger Fernando de Collor de Mello em 1989 e empenho semelhante em tentar derrubar o presidente metalúrgico quando das denúncias do mensalão da República, desmistifica a retórica de uma imprensa perseguida pelos tentáculos do poder estatal, como nos quis fazer crer a Folha de S.Paulo e a Veja em série de reportagens sobre “a vocação autoritária” do governo Lula.
A questão aqui não é minimizar/negar a brutalidade do poder autoritário do regime militar ou do Estado Novo, mas colocar em xeque o discurso vitimizante e cínico de uma mídia comprometida até o pescoço com o autoritarismo estatal e o fascismo social.
Em O Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto conta a história de um funcionário público ultranacionalista, sonhador, que aos poucos perde o encanto com o seu país e a sua gente. Do ufanismo pelo Brasil e da adoração pelo presidente Floriano Peixoto, resta apenas um Policarpo desiludido com a administração pública, chocado com o autoritarismo do Estado, deserdado em um asilo e, finalmente, executado pelas ordens diretas do presidente. Não é esse o fim que queremos para o outro Policarpo – o editor da sucursal de Brasília da revista Veja – embora fosse uma demonstração de apreço pela democracia se o Ministério Público levasse ambos, o jornalista e seu patrão Roberto Civita, aos tribunais.
Ambos, Policarpo Quaresma (ficção jornalística) e Policarpo Júnior (jornalismo-ficção) são, no entanto, caricaturas de projetos autoritários que, no caso do jornalismo, se convencionou chamar pelo pomposo nome de esfera pública midiática. O triste fim de ambos Policarpos poderia ajudar aqueles(as) de nós, jornalistas, comprometidos com um outro projeto de sociedade a aprofundarmos a crise do já moribundo jornalismo brasileiro a ponto de tornarmos sua legitimidade nula e as relações de classe nas redações insustentáveis. Isso implicaria deixarmos a arrogância de lado e reconhecermos o horroroso papel que ocupamos nas mediações entre os interesses dos patrões e o interesse dos grupos sociais subalternizados. De que lado estamos? Aí, na crise sistêmica de credibilidade, e na morte do jornalismo tal qual concebido até aqui, pode residir a esperança de uma prática jornalística para a justiça e a paz.
***
[Jaime Amparo Alves é jornalista e doutor em Antropologia Social pela Universidade do Texas, em Austin, e assessor de movimentos sociais em São Paulo]

5 de fevereiro de 2012

REVISTA LUME

Atuo como coordenador de  Língua Portuguesa na Escola Lúcio de Mendonça (Piraí - RJ) e observo que há um grande interesse dos alunos pela literatura em geral. Nossa Sala de Leitura é muito frequentada e o empréstimo de livros é intenso. 
Daí surgiu a ideia de criar a LUME. O conteúdo da revista traz poemas de autoria dos próprios alunos, dicas de leitura e informação sobre autores importantes (neste número o homenageado é Fernando Pessoa). Todo o processo foi feito com participação direta dos alunos.
Foi feita uma tiragem de 50 exemplares e ela se encontra disponível para download.
Boa leitura. 



24 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA DOS ELETRÔNICOS (Annie Leonard)

Estes vídeos de Annie Leonard são ótimos para iniciar debates sobre consumo consciente, sociedade, economia capitalista, meio ambiente dentre tantos outros assuntos. Seja na comunidade, condomínio, escolas, centros de cultura, enfim, em qualquer espaço em que pessoas se reúnam e se interessem por conhecer mais o mundo em que habitamos. 
Outra vantagem é a curta duração de cada um dos vídeos (vejam que na faixa inferior do vídeo há o tempo total de duração), pois permitem que o debate possa ocupar um tempo adequado para a exposição dos vários pontos de vista e leituras sobre o assunto, assim como de propostas de ação. 
Bom proveito.

19 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA DA ÁGUA ENGARRAFADA (Annie Leonard)

Nas escolas brasileiras nos anos 70, todos os alunos "aprenderam" que o petróleo estava acabando. Diziam que quando chegassem à idade adulta, não haveria gasolina para eles. O que foi feito? Controle do uso do combustível? Diminuição da fabricação de automóveis? Desenvolvimento de outros tipos de combustíveis (renováveis e menos poluentes)? Melhoria do transporte público coletivo? Nada disto. O que fizeram foi justificar o aumento do preço da gasolina e acirrar a luta por regiões petrolíferas.
A doutrinação hoje é de outro tipo. Pergunte pra qualquer criancinha e ela repetirá: - Tio, a água do planete tá acabando?
O que estão fazendo? Preservando as fontes? Evitando poluir os rios e lagos? Desenvolvendo processos de coleta de água de chuva nas casas? Afinal, a água do mundo está acabando mesmo? 
Nada disso. As crianças estão crescendo e achando muito normal pagar uma fortuna em 500 ml de água. Quem tem mais de 40 anos sabe que em nossa infância a ideia de vender água era um tanto estranha. Todos achávamos correto a água ser dada. 
Quem ganha com isto? A Nestlé, a Coca-Cola, a turma de sempre.
Com a palavra, mais uma vez, Annie Leonard.

11 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA DOS COSMÉTICOS (por Annie Leonard)

Crianças de cinco anos usam vários produtos de "beleza". Nesta sociedade de consumo a valorização excessiva da aparência tem por objetivo movimentar a milionária indústria da vaidade: cosméticos, clínicas, salões, academias etc. Em todos eles, a beleza é conseguida principalmente pelo uso maciço de produtos químicos. 
Vejam mais este vídeo de Annie Leonarde e reflitam.

Clique no vídeo e assita (legendado em português-br).


A HISTÓRIA DAS COISAS

A ativista Annie Leonard (saiba mais) é autora de uma série de vídeos e livros que falam sobre a produção de objetos de consumo e as implicações deste processo para o meio ambiente em todos os sentidos: ecológico, social, cultural, econômico, político etc. Não se atendo ao discurso reducionista do ecologismo de fim de semana, ela apresenta uma visão bastante interessante sobre as consequências do consumo e o quanto seria importante uma vigilância maior sobre a produção de bens de consumo e, em especial, do descarte das mercadorias.
Abaixo segue o linque para o vídeo na íntegra e, melhor ainda, dublado. Assim fica mais acessível para fins didáticos.


9 de janeiro de 2012

COMPRAR, JOGAR FORA, COMPRAR

Este documentário espanhol foi lançado no ano de 2011 e ganhou vários prêmios. A diretora Cosima Dannoritzer aborda os produtos industriais que são intencionalmente fabricados para durar um tempo determinado. O objetivo seria a promoção do consumo e o lucro. Por meio de uma micronarrativa (a história do programador Marcos, que se recusa a descartar sua impressora), de depoimentos de especialistas e revelações de investigações baseadas em documentos oficiais, o documentário explica como funciona a "obsolescência programada". É por isto que lâmpadas, meias de nylon, baterias, impressoras, entre tantos outros produtos, duram menos do que poderiam e forçam os cosumidores ao descarte de produtos seminovos ou pouco usados. Há ainda o problema ambiental grave gerado pelo desperdício de matéria-prima e pelo acúmulo de lixo industrial.

TEMAS PRINCIPAIS: 1. Consumismo 2. Obsolescência Programada 3. Indústria e Mercado
SUBTEMAS: 1. Cartéis 2. Meio Ambiente 3. Capitalismo

SAIBA  MAIS:

Entrevista com a diretora Cosima Dannoritzer (Estadão).
ASSISTA DIRETO NO YOU TUBE


FICHA TÉCNICA:
Comprar, Jogar Fora, Comprar (Comprar, Tirar, Comprar)
Gênero: Documentário
Duração: 52 min.
Direção: Cosima Dannoritzer
Produção: rtve, Media 3.14
Idioma: Espanhol (legendas em Português-BR)