4 de dezembro de 2013

DOCUMENTÁRIO: O HOMEM PRÉ-HISTÓRICO: VIVENDO ENTRE FERAS (4 partes)

Este documentário (em quatro partes) faz uma série de especulações baseadas nos conhecimentos científicos acerca dos agrupamentos humanos pré-históricos. Procura  mostrar como as descobertas e invenções da pedra lascada e do fogo, por exemplo, proporcionaram saltos enormes no desenvolvimento da espécie e no domínio da natureza.


30 de novembro de 2013

AS MADRES TERESAS DE CONDOMÍNIO


Se tem uma coisa que a classe média urbana desconhece, na qual é completamente ignorante, é o tal do “povo”. E é preciso colocar essa palavrinha entre aspas porque ela em si não quer dizer coisa alguma. Por povo, ali, deve-se entender a multidão de pobres e trabalhadores de baixa renda espalhados pelos Brasis de cima a baixo.
O termo “povo” é uma dessas palavras-bombril, tem mil e uma utilidades, mas seu valor é de uma inconstância terrível, variando da positividade emotiva de “somos um povo alegre” até a negatividade mais rasteira da atemporal “o povo não sabe votar”. E ainda tem um detalhe: no primeiro caso, o povo somos “nós”, no segundo, são “eles”.
Mas eu falava da burrice da classe média urbana em matéria de povo e vou explicar. O indivíduo que mora em apartamento e estudou em escolas caras só conhece o tal de povo pela telenovela e pelo telejornal, nas crônicas do Jabor e nos bons-dias e boas-noites que dá para o porteiro. Nada mais artificial e enganador para entender o tal do povo do que observá-lo nesses lugares. Na TV e na imprensa, o povo aparece como um bando de imbecis alienados, festivos em dia de jogo de futebol, trágicos na entrevista após as enchentes ou ridículos quando explorados em programas de auditório. Mas esta versão fictícia agrada em cheio à mentalidade do homem ilustrado, porque este precisa desesperadamente se sentir diferente do tal do “povo em negativo”, precisa se sentir mais inteligente, informado e civilizado. Para atender essa fantasia classista a que precisa se agarrar como o náufrago no pedaço de pau, a imprensa e a indústria do entretenimento fabricam suas caricaturas para consumo do bom burguês.
Mas tem também o classe média sensível e “cabeça”, que diz adorar o povo, entendê-lo e ajudá-lo (só esquece de perguntar se o dito povo está interessado em sua ajuda). Para este ser de espírito elevado o pobre é um coitadinho, uma vítima do sistema, um mendigo de tudo: dinheiro, cultura, bom gosto, bons modos. Outra balela. No seu afã de praticar boas ações ele se junta a outros comovidos filantropos e vai em busca do zé povinho. Alguns ofertam sopa e cesta básica e vão dormir aliviados, outros acham que levar balé e orquestra para a favela é a maior das gentilezas. Nada mais ofensivo, arrogante e autoritário do que achar que o que o pobre precisa é ouvir Tom Jobim ou Vivaldi para virar gente. Na cabeça esfumaçada da classe média urbana, além das confusas noções que ela tem de liberdade e conhecimento, fermenta a ideia de que o que o povo mais almeja na vida é morar no apartamento em que ela mora, estudar em sua escola, comer no seu restaurante e ver os filmes que ela vê. O ser urbano imagina que tudo o que o pobre quer é virar ele também um classe média. Nada mais equivocado que isso.
O pobre quer mais dinheiro sim, quer mais conforto, quer mais comida, diversão e arte, como diz a música. Mas não a comida a diversão e a arte que são servidas ao pequeno e grande burgueses. O pobre não quer morar no condomínio de luxo, não quer ir ao teatro assistir ‘stand up’, não quer ouvir Ivan Lins. Mas o aburguesado sensível não sabe disso e na sua fantasia apalermada de madre Teresa de Calcutá humilha, ofende, engessa e rebaixa o pobre com seus eventos, projetos, com sua retórica de almanaque e sua generosidade inútil. 

26 de outubro de 2013

RUMOS DO SÉCULO XXI

Talvez estejamos mesmo atravessando a fronteira que separa a Idade Moderna (ou Contemporânea) de uma Nova Era. O mundo marcado pelo humanismo, antropocentrismo, racionalismo e pela predomínio das democracias liberais tem dados sinais de que está prestes a ruir, pois muitas de suas bandeiras veem a cada ano perdendo sentido, prestígio e sendo questionadas ou substituídas por outras. 
O mundo que gerou um tipo específico de comportamento social, familiar, religioso, cultural, político, econômico, estético, moral... praticamente não existe mais, o que resta dele são sombras, memórias e rituais que cada vez mais soam inoportunos ou inadequados. 
As reações que se levantam hoje contra as novidades na medicina, na tecnologia, na política, na mídia, podem ser percebidas como sintomas desse mundo antigo que não aceita ser substituído por seu sucessor.
Se você pretende viver sem preocupações e aborrecimentos, então esteja preparado para implantes de chips e ultravigilância pessoal, comércio legal de órgãos humanos, banalização da sexualidade (sem erotismo), ética narcísica, democracia totalitária (é, isto é possível), demonização da família nuclear, fascismo de grupos institucionalizados etc. etc.
Aos últimos dos humanistas, meu saudoso adeus, aos novos habitantes do planeta Guerra, divirtam-se.

SINTOMAS DA FRONTEIRA ENTRE ERAS:



18 de outubro de 2013

MASSAS ACÉFALAS?



Os protestos de junho geraram uma infinidade de interpretações. Para alguns, houve ali uma revolução radical, para outros, tudo não passa de um ato de rebeldia juvenil sem causa, há ainda quem vê fascismo, alienação, comportamento de ultra-direita...
De fato, como são múltiplas as reivindicações, algumas pontuais outras vagas, como são diversos os grupos participantes, de neo-anarquistas ao chamado "lumpesinato", é mesmo difícil dar uma única explicação para os acontecimentos. E como somos desejosos em atribuir uma causa e um sentido para as coisas, ficamos aturdidos diante de tantas causas e sentidos ou, pior ainda, da ausência deles. 
Mas uma coisa é preciso ressaltar: a manifestação violenta de populares não é algo novo, ela é recorrente nos países ocidentais há muito tempo, principalmente a partir do século XVIII, em que a concentração gradativa de grandes massas nas cidades e a progressiva experiência política foram desenvolvendo uma espécie de pedagogia do uso do espaço público. 

30 de setembro de 2013

INFÂNCIA (TEXTO GRÁFICO)

Nos anos 80 eu fiz algumas experiências com os fanzines e zines. Uma das que mais gostei foi o "Diário", narrativa lírica que se casava com ilustrações que reforçavam ou complementavam o conteúdo. 
A web fez o suporte zine perder um pouco sua finalidade e todo mundo começou a migrar para os blogues e redes sociais.
Este ano resolvi dar continuidade àquela experiência, mas agora fazendo uso de ferramentas digitais. Daí surgiu este "Infância", texto gráfico feito em Power Point, salvo como pdf e postado usando o PageFlip. 
A ideia é continuar experimentando e ver até onde se pode ir.

PARA LER "INFÂNCIA", CLIQUE AQUI (Page Flip).
PARA LER NO CALAMÉO, CLIQUE AQUI.

SOBRE OS DISCURSOS CONTRA O PRECONCEITO

Universidade de Yale (fundada em 1701), Connecticut, EUA.


Em uma notícia de hoje (30/09/2013), no Estadão, sobre a prisão da jornalista brasileira nos EUA, o jornal reproduz comentários de Laurentino Gomes. A fala dele, na minha opinião, reproduz algo que me incomoda nos discursos sobre preconceito, pois ele faz afirmações e alusões sobre a prática da xenofobia a partir de impressões, de experiências acumuladas no passado, de uma constatação generalizada. Mas acontece que o caso em si, analisado em seus detalhes, não nos permite afirmar que houve, como ele diz, preconceito óbvio contra estrangeiros. Esta afirmação pode ser, no máximo, uma suposição (suposições são impressões, subjetividades), mas daí já sair rotulando o episódio de xenofobia é muito mais a afirmação de um dogma do que a reflexão sobre o ocorrido. 

24 de setembro de 2013

GOSTO PELAS PALAVRAS

RESUMO: o texto abaixo é uma resenha do livro Emoções Selvagens, da poeta Eliane de Lacerda. O lançamento do livro ocorreu no dia 23 de setembro, na livraria Veredas (Volta Redonda - RJ).

Gosto Pelas Palavras: uma leitura do livro Emoções Selvagens

            Emoções Selvagens é o quinto livro da poeta Eliane de Lacerda. Se considerarmos que a produção da poesia local tem vários fatores que forçam seu encolhimento, uma vez que se está fora do eixo Rio-São Paulo e distante das editoras e dos formadores de opinião, a publicação de cinco livros por uma autora de Volta Redonda é, por si só, um fato pouco comum e bastante louvável.
           
Não é difícil entender o porquê disso. Eliane de Lacerda é uma pessoa para quem a palavra, a literatura, a poesia são elementos vitais, são parte inseparável de sua vida, de sua sensibilidade. Como os versos de Alma do Poeta afirmam, “Escrevo porque as palavras atropelam-se em minha mente tenho / tonturas / vertigem alfabética, sou simples e poeta”. Esta “vertigem das palavras” é a pista para entender esta produção tão vasta.
            O livro é composto por 50 poemas e 33 crônicas. Além de sua produção em versos, agora a autora trilha os caminhos da prosa (por meio do gênero crônica), e nelas se percebe a presença dos temas e da sensibilidade recorrentes na obra da poeta. Mas que características seriam essas? Quais são as marcas da poética de Eliane de Lacerda?

15 de junho de 2013

FUTEBOL

Adoro futebol. De todos os esportes que conheço, é o que acho mais completo, fraterno e humano. 
As habilidades necessárias para compor um time são impossíveis de se conseguir com apenas um biotipo. Daí que o futebol é acessível a baixos e altos, fortes e esguios, sem prevalência de um sobre o outro, uma vez que para cada posição ou situação um biotipo pode ser preferencial a outro, mas não é regra. Romário e Mauro Galvão estão aí, na memória de todos e nos arquivos na web, para provar minha tese.
O futebol, como todos os esportes, concentra sua beleza e sua grandeza nos aspectos simbólicos que ele produz. Mais do que detalhes técnicos e atléticos, o apreciador de esportes se encanta com o lado mitológico, com as metáforas e com os subtextos imaginados a partir de uma disputa. Quem já viu um atleta de uma nação rica (favoritíssimo antes da largada de uma corrida) ser vencido inesperadamente por um quase desconhecido corredor (representante de um país que muitos sequer conseguiriam apontar no mapa), conchece o tsunami de emoções que os esportes conseguem proporcionar. E, para mim, dentre todos, o futebol é o esporte que mais e melhor consegue metaforizar a experiência da vida humana. 
Há partidas de futebol que podem ser lidas como verdadeiros tratados sobre a espécie humana. Há em cada partida futebol, da final de Copa do Mundo à pelada de várzea de um domingo de sol ao meio dia, um número enorme de sentimentos, situações, conflitos e lições de vida. 
Talvez a explicação para o fato de nossa literatura de ficção tratar tão pouco do assunto, seja porque uma partida de futebol já é um romance em si, ou uma tragédia, às vezes até uma farsa. Mas o que não falta ali, nunca, é drama, a ação que se constroi na dinâmica das causas e consequências. Até partidas canceladas dão boas histórias.

14 de junho de 2013

ESPECULAÇÃO SOBRE "A ORIGEM DO CAPITALISMO"

Com o fim do sistema feudal (Idade Média, séc. XV), a Europa (e o Novo Mundo recém invadido para ser acoplado ao mundo europeu) foi progressivamente desenvolvendo e ampliando as práticas comerciais e industriais que já existiam, mas que foram se tornando cada vez mais organizadas e racionais (Max Weber utiliza o termo "capitalismo racional" para explicar isto). 
Após um período em que a organização política mais recorrente era a monarquia (nobreza), as sociedades da Europa foram se organizando em torno da ideia de Estado-Nação até chegarem na implantação das repúblicas (res = coisa), em que o poder é dividido em três partes (executivo, legislativo e judiciário) e quase todas as pessoas são consideradas participantes do processo político e em iguais condições (embora isto não ocorra plenamente, fica pelo menos no plano da intenção). 
No século XIX surgiram três (foram várias, mas vamos focar nestas três que mais se impuseram) propostas de organização político-econômica: 1. as democracias burguesas (capitalismo liberal); 2. o nacional-socialismo (capitalismo controlado pelo estado); 3. comunismo (o capital aqui passa a ser plenamente controlado pelo estado, que assume o pleno controle dos bens, da saúde, educação, segurança etc.). 

12 de junho de 2013

A LÓGICA DO AMOR ROMÂNTICO

Doze de junho é a data  conhecida como Dia dos Namorados - junto com o Dia das Mães é a que mais lucro gera para o comércio. Véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, a data foi provavelmente introduzida no Brasil por João Dória (publicitário baiano), em 1949, para atender aos interesses de uma loja de departamento paulista.
Se pensarmos como a lógica da sociedade capitalista pode ser aplicada a este dia para ajudar a entender sua dimensão racional, a coisa fica assim: o romantismo (entendido como manifestação estética e ideológica própria da burguesia) faz com a relação amorosa o mesmo que faz com outros elementos, como a pátria, a sociedade, o povo etc., isto é, a visão romântica idealiza estes elementos. Idealizar é conferir perfeição, pureza, heroísmo, gigantismo, transcendência a coisas que são simplesmente naturais ou humanas, ou seja, coisas que são imperfeitas, impuras, medíocres, miúdas, telúricas (e isto não é defeito, apenas é assim que as coisas são, sem o cosmético da fantasia). 
O amor idealizado estabelece limites inatingíveis e irreais: duração eterna, harmonia plena, fidelidade até no pensamento, sorrisos 24 horas, tudo didaticamente concentrado na fórmula dos contos de fada (aburguesados): "... e viveram felizes para sempre".

Não por acaso, esta sociedade é congenitamente neurótica, uma vez que viver impondo a si e aos demais a busca por objetivos impossíveis de se atingir só pode gerar frustração, decepção e psicopatias de todo tipo (ainda bem que tem o psicólogo e a farmácia da esquina para aliviar).

Comércio e propriedade individual. Estes dois elementos são fundamentais na distinção entre a sociedade burguesa e a, digamos, "feudal" (medieval) que antecedeu aquela. 

5 de junho de 2013

RECORDAÇÃO (crônica de Antonio Prata)

Resumo: o texto abaixo é de Antonio Prata e é um exemplo primoroso da grandeza e da simplicidade da crônica. Este gênero maleável, que mimetiza qualquer outro gênero, consegue extrair da aparente simplicidade cotidiana momentos sublimes. 
 
Antonio Prata

Recordação



"Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado", ele disse, me olhando pelo retrovisor. Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora para percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio, aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado".

Meu espanto, contudo, não durou muito, pois ele logo emendou: "Nunca vou esquecer: 1º de junho de 1988. A gente se conheceu num barzinho, lá em Santos, e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...".

Houve um breve silêncio, enquanto ultrapassávamos um caminhão de lixo e consegui encaixar um "Sinto muito". "Obrigado. No começo foi complicado, agora tô me acostumando. Mas sabe que que é mais difícil? Não ter foto dela." "Cê não tem nenhuma?" "Não, tenho foto, sim, eu até fiz um álbum, mas não tem foto dela fazendo as coisas dela, entendeu? Que nem: tem ela no casamento da nossa mais velha, toda arrumada. Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. Sabe o jeito que eu mais lembro dela? De avental. Só que toda vez que tinha almoço lá em casa, festa e alguém aparecia com uma câmera na cozinha, ela tirava correndo o avental, ia arrumar o cabelo, até ficar de um jeito que não era ela. Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano, mesmo. A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf. Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não? Tá acompanhando? Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?" "Isso."

"Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar." "E aí?!" "Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: Entra'. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação'."

Paramos num farol. Ele tirou a carteira do bolso, pegou a foto e me deu: umas 50 pessoas pelas mesas, mais umas tantas no balcão. "Olha a data aí no cantinho, embaixo." "1º de junho de 1988?" "Pois é. Quando eu peguei essa foto e vi a data, nem acreditei, corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não. Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? Vou morrer com essa dúvida. De qualquer forma, taí o testemunho: foi nesse lugar, nesse dia, tá fazendo 25 anos, hoje. Ali do lado da banca, tá bom pra você?" 

(FOLHA DE SÃO PAULO. 5 jun. 2013 - Cotidiano - Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/112455-recordacao.shtml)

14 de maio de 2013

ESPECULAÇÃO SOBRE "A BURGUESIA: UMA DEFINIÇÃO"



Onde e quando nasce a burguesia? Esta pergunta terá tantas respostas quantos forem os modelos de pensamento utilizados para tentar respondê-la. 
Como é útil definir alguns pontos de partida quando se quer conversar mais profundamente sobre algo, vamos propor um rascunho para essa indagação.
Começa assim: a palavra remete a "burgo", que seriam os protótipos do que hoje conhecemos por "cidades". O burguês é seu habitante e a burguesia o conjunto formado pelas pessoas assim classificadas.
Desde o século XII já é possível identificar pessoas cujas ocupações se distinguem do grande número de trabalhadores braçais (e demais grupos de baixo prestígio, despossuídos, mendigos etc.) que formavam a enorme base da pirâmide medieval. 
Conforme esta camada vai se desenvolvendo, vai ficando cada vez mais numerosa e influente. No comércio, na construção, na manufatura, nos serviços burocráticos, são várias as áreas de ocupação que ficam a cargo dessas pessoas. Mas claro, é preciso lembrar que essa história não é simplesmente linear, mas atravessada por refluxos de época em época.  

28 de abril de 2013

EXISTE VIDA LITERÁRIA NA REGIÃO SUL FLUMINENSE?



A pergunta do título não é fácil de responder, dentre outros motivos, pelo fato de que é certo que cada um tem uma concepção própria do que seria o ideal ou o desejável para uma região em matéria de “vida literária”. Para alguns, talvez este ideal seja viver em um lugar cujo índice de livrarias e bibliotecas se assemelhe ao de Paris, cidade que tem a cultura letrada como um de seus orgulhos históricos e como parte de sua própria identidade. Para outros, a constatação de que existam pessoas produzindo literatura e pessoas usufruindo dela talvez já seja um dado suficiente e satisfatório. 
Acredito que a segunda opção seja a mais “realista”, mais “comum” e por ela me pauto.
E, se alguém me fizesse a tal pergunta, arriscaria dizer que nossa vida literária “vai bem, obrigado”. 

26 de fevereiro de 2013

A HISTÓRIA DOS CIDADÃOS UNIDOS x COMISSÃO ELEITORAL FEDERAL


Annie Leonard (Projeto História das Coisas) trata neste vídeo do polêmico tema do financiamento das campanhas políticas. O raciocínio é simples, mas a solução é para lá de complicada. Uma vez que empresas financiam as campanhas com seus milhões, fica difícil para candidatos não apoiados por elas conseguirem vaga nas câmaras ou senado. Por sua vez, causas de interesse da coletividade, mas que vão de encontro aos interesses por lucro das corporações, dificilmente serão aprovadas e sancionadas, afinal, na hora de legislar, votar, aprovar, os políticos precisam cumprir com a palavra que empenharam e não irão querer perder seus ricos padrinhos.
Mas o engraçado nisto tudo é ver que até mesmo nos EUA (país de Annie Leonard), algumas pessoas estão começando agora (mas só agora?) a perceber o quanto o sistema democrático é passível de distorção, o quanto as empresas são quem, de fato, decidem os rumos da nação, definem as ações do Estado, decidem sobre a vida dos cidadãos. A retórica de que a democracia é um sistema baseado na representatividade e promove a igualdade de direitos cai por terra ao menor olhar crítico que se fizer sobre ela.


Depois da tirania neoliberal dos anos 80-90, a crise econômica (na verdade, a falência do sistema capitalista) vai revelando, para quem quiser ver, o funcionamento de sua estrutura e os mecanismos que cria para se perpetuar no poder e causar a ilusão de que é a única forma de organização e produção possível. 
Mas é aquela história, toda mentira, um dia se revela.

Talvez tenha sido Goebbels quem disse "uma mentira dita cem vezes torna-se verdade", enquando Abraham Lincoln (dizem) afirmaria que:"Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar a todas por todo o tempo."

6 de fevereiro de 2013

MAIORIAS E MINORIAS


O assunto que vou tratar aqui é polêmico, o que significa que, provavelmente, muitos interpretarão a sua maneira, de tal modo que o conteúdo principal do texto será desprezado em função de supostas posições que o texto expressaria nas suas entrelinhas. Isto é inevitável, mas mesmo assim publicarei.

A sociedade burguesa é fundada no princípio democrático e, por consequência, no Estado de Direito. A base política que sustenta isto é o executivo, a base jurídica é o judiciário. O legislativo opera entre esses dois polos. O capital, corporificado por empresários, executivos, corporações e instituições de todo tipo, tem papel fundamental na composição e na orquestração das citadas bases.
É preciso lembrar que há várias possibilidades de se pensar o Estado e a Nação. Desde propostas de base liberal, em que o Estado procura intervir minimamente e cuja principal função é facilitar a dinâmica do chamado Mercado, até propostas de um Estado controlador e gestor atento da vida pública.
A proposta de Estado mínimo interessa não só às ânsias de lucro do capital, mas também aos setores médios que operam no plano ideológico para conquistarem espaços e privilégios por meio da oficialização de seus interesses. É aqui que entra a importância, para esses grupos, da jurisprudência e da democracia burguesa e liberal.
Mas para transformar seus interesses em leis que garantam tais privilégios, é preciso antes uma operação de propaganda (ideológica, evidentemente) para disseminar a ideia de que suas reivindicações são mais que plausíveis, justas, éticas e que qualquer pessoa esclarecida não deveria se posicionar contrariamente a tais reivindicações.