27 de março de 2011

LIBERDADE "ME" IMPRENSA

Curioso este fim de semana no jornal O Globo. 
Na sexta, Arnaldo Bloch (que eu admiro e respeito) usou 90% de sua coluna no Segundo Caderno para reclamar de um abafado estacionamento na Cinelândia, que usou quando foi assistir no Theatro Municipal à apresentação de Metrópolis, de Fritz Lang, com acompanhamento da Orquestra Sinfônica Brasileira. 
No sábado, Zuenir Ventura (que eu respeito, mas não admiro) escreveu em sua coluna um desabafo por ter sido obrigado a se desfazer de uma tesoura de cortar unha em um aeroporto brasileiro. Inconformado em ter que cumprir a lei, xingou tudo e todos. 
Hoje, domingo, o senhor Caetano Veloso (que eu não respeito, mas admiro como compositor) resolveu defender sua irmã, Maria Bethânia, das críticas que ela vem sofrendo por ter conseguido aprovar junto ao MinC R$ 1,3 milhão para a construção e manutenção de um site (com declamações em vídeo de poemas). Também xingou todo mundo ("corja", "idiota", "corinho", "um tal..." etc.) e até denunciou pessoas e instituições (Veja, Folha de São Paulo, Lobão, Ricardo Noblat - acusou este de  ter um caso com a também repórter do próprio O Globo, Mônica Bergamo! - etc.). Reclamou ainda de preconceito contra a Bahia e os baianos, excomungando a expressão "máfia do dendê" atribuída a eles. Só não se preocupou em debater o óbvio: este processo de captação de recursos via Lei Rouanet é correto? O caso Bethânia (está certo, sequer chega a ser uma anomalia) é sem dúvida um bomexemplo para a discussão e revisão dos princípios da difamada Lei. Tal debate vem sendo feito há anos, mas artistas medalhões se calam, pelo menos enquanto não são diretamente citados, ou quando seus pares não o são.
Junte-se a isto tudo o fato de Tiago Leifert, o apresentador mala do Globo Esporte paulista (que eu não respeito e não admiro), ter perdido a calma em seu twitter com os internautas que lhe acompanham e cobram dele o fato de a Rede Globo não noticiar o processo de compra de direitos de transmissão do Brasileirão 2012 (em diante), em que a emissora no qual o rapaz trabalha tem sido acusada de antiética.
O que isto tudo tem em comum? Primeiro o fato de que deve ser muito bom ter um espaço semanal (no mínimo) para poder desabafar, reclamar, dar carteirada, mandar recados desaforados, defender a patota etc. e tal, coisa que os demais mortais nem sonham, e são, por isso, obrigados a remoer seus rancores e sofrimentos sozinhos e encharcados de álcool ou Rivotril. Em segundo lugar, é sintomático o fato de as mesmas turmas que defendem a tal "liberdade de expressão (e de imprensa)" - sem aceitar discutir de fato o que significa isto - serem os primeiros a reagir agressivamente quando tal liberdade se volta contra eles. É muito fácil para O Globo (e similares) ocultar o que não lhe agrada, potencializar desmedidamente aquilo que lhe interessa, criar factóides por meio da velha retórica e usar sua ética particular como modelo universal, mas como ficam os destratados, os caluniados, os injuriados e agredidos? 
A grande perversidade da retórica é associar indevidamente palavras que expressam sentidos diferentes. Ao longo da história há milhares de exemplos deste tipo. Associar "regulamentação ética" à "censura" é mais um capítulo desta longa, deplorável e cínica história.

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