24 de maio de 2011

BOB DYLAN

Bob Dylan completa 70 anos hoje! 70?! 
A primeira vez que ouvi Blowin'in the Wind, na versão de Diana Pequeno em um programa de auditório, fiquei maravilhado. Aquela letra, aquela melodia... não teve jeito. Passei a perseguir Dylan em um tempo que ter acesso a músicas etc. era uma odisseia. Não era nada fácil achar em Volta Redonda de fins dos anos 70, início dos 80, discos que não fossem trilhas sonoras ou sucessões de rádio AM. 
Conheci Dylan pra valer ouvindo o lp Desire (1976), que rodava em nossos toca-discos à exaustão nos anos 80. Hurricane, Isis, Oh, Sister ficaram impressas na minha memória auditiva. Dylan pra mim nunca foi um deus, mas sempre admirei-o muito como letrista, melodista e intérprete de canções, sua voz é essencial para dar o realce expressivo que certas canções pedem. Nos anos 60 ajudou a legitimar o conceito de autoria na canção pop, firmando o estilo compositor-cantor em substituição a ideia consagrada de intérpretes técnicos. Algo similar aconteceu no Brasil, com João Gilberto e Chico Buarque. Isto por si só já o consagra, mas sua obra vai muito além disto, pela variedade, pelo simbolismo de sua figura para a contracultura e para a cultura pop e nos últimos anos pela longevidade de sua verve criativa.
O documentário No Direction Home (de Martin Scorsese) é uma ótima introdução à obra de Bob Dylan. Recomendo.

22 de maio de 2011

ME DEIXEM EXPLICAR...

Em meio à tempestade em copo d'água promovida pelo O Globo sobre o livro "Por Uma Vida Melhor", surge na Folha de São Paulo uma notícia interessante. Lembrando: jornalistas de O Globo (Merval Pereira, Artur Dapieve, o próprio Editorial etc.) colocaram o livro no paredão e fuzilaram a autora sem sequer terem lido o contexto e/ou procurado entender a proposta didática e a base teórica que justificam a abordagem. Mas como o propósito era detonar o Haddad (do MEC), pré-candidato a prefeito de SP, a gente entende o porquê da 'falha'. 
Abaixo segue o texto da FSP (já que a página original é só para assinante - recomendo: assine o UOL, 8 merreis, e tenha acesso à Folha e outras publicações).


Mesmo falantes cultos não seguem a norma padrão

Análise leva em conta mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde a década de 1970 em cinco capitais

Pesquisa mostra que entre brasileiros com nível superior só 5% usam pronomes da forma recomendada

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

"Os menino pega o peixe e colocam na mesa." O leitor mais escolarizado provavelmente estranhará a falta de concordância na frase anterior entre o artigo e o substantivo e entre o sujeito e o verbo. Mas há algo mais nela em desacordo com o que é ensinado em gramáticas.
Falta o pronome oblíquo "o", para que a frase, agora escrita em total acordo com a norma padrão, fique assim: "Os meninos pegam o peixe e colocam-no na mesa."
Análise de mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde 1970 em cinco capitais revelam que mesmo os brasileiros de nível universitário, na fala, usam variedades linguísticas em desacordo com a norma padrão.
Estudos feitos a partir do projeto Nurc (Norma Linguística Culta Urbana) e do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua revelam, por exemplo, que a omissão do pronome, como no exemplo da frase que iniciou este texto, é uma das características mais comuns tanto entre os mais escolarizados quanto entre os menos instruídos.
Entre brasileiros com nível superior, não passa de 5% a frequência na fala com que o pronome é colocado em casos em que a norma padrão escrita recomendaria. Entre os menos escolarizados, o percentual é de 1%.

CONCORDÂNCIA
A diferença mais visível está na concordância em frases curtas, como em "Os menino pega o peixe", mais comum entre os menos escolarizados.
As pesquisadoras Dinah Callou, Eugenia Duarte e Célia Lopes, da UFRJ do projeto Nurc, explicam que os mais escolarizados têm maior cuidado com a concordância ao escrever. Na fala coloquial, porém, o monitoramento é menor e ela se aproxima das variantes populares.
"Para espanto de muitos, as análises mostram que as variedades cultas não só não se distinguem muito entre si como também não se distanciam muito das variedades chamadas populares", afirmam as pesquisadoras.
Um dos mais conhecidos estudos feitos a partir da base de dados do projeto Nurc foi feito por Ataliba Teixeira de Castilho (Unicamp).
Ele afirma que uma das principais conclusões foi que, para surpresa de muitos, a língua falada por eles era também muito diferente do que era preconizado pelas gramáticas da época.
Os pronomes pessoais das gramáticas escolares (eu, tu, eles, nós, vós, eles), por exemplo, já não correspondiam mais ao que era usado na fala dos mais escolarizados, que já trocavam, desde a década de 1970, "tu" e "vós" por "você" e "vocês", além de "nós" por "a gente".
Uma das consequências é que, como explica Castilho, é cada vez menos comum o uso do sujeito oculto, já que, pela terminação do verbo, não é possível mais identificar claramente qual pronome pessoal foi ocultado.
As formas verbais de terceira pessoa são usadas com os pronomes "você" e "ele", portanto a terminação não é capaz de identificar o sujeito (por exemplo, "você fala", "ele fala"). O mesmo vale para as formas do plural ("vocês falam", "eles falam"). Com "tu" ou "vós", isso não aconteceria. A terminação seria suficiente para que o interlocutor descobrisse qual era o sujeito da frase.

8 de maio de 2011

OBAMA E O GOVERNO DOS EUA SÃO ASSASSINOS VULGARES

Qualquer coisa que eu disser é redundância. Portanto, basta o título e os textos de outros autores que seguem abaixo.

ROBERT FISK
FONTE: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2011/05/04/osama-foi-traido-claro-que-sim-coluna-robert-fisk


Osama foi traído? Claro que sim / Coluna / Robert Fisk



Robert Fisk

Uma pessoa de meia idade, um fracasso político a ser desprezado pela História depois que milhões de árabes foram às ruas pedindo liberdade e democracia no Oriente Médio, morreu no Paquistão.

E, aí, o mundo enlouqueceu. Osama bin Laden via a criação da al-Qaeda como sua maior realização. Mas a al-Qaeda não era uma organização que exigisse filiação oficial. Bastava acordar decido a integrá-la e pronto. E Bin Laden não era um guerreiro. Em sua “caverna” não havia computadores ou telefones para ativar bombas.

Por falar em cavernas, a morte de Bin Laden coloca o Paquistão na berlinda. Durante meses, o presidente Ali Zardari insistiu que ele vivia em uma caverna no Afeganistão. Agora, sabe-se que morava numa mansão no Paquistão. Bin Laden foi traído? Claro. Pelos militares ou os serviços de inteligência do Paquistão? Provavelmente pelos dois. O Paquistão sabia onde ele estava.

Abbottabad não é apenas sede da principal escola militar do Paquistão. A cidade — fundada pelo major do Exército britânico James Abbot em 1853 — também é o quartel- general da segunda divisão do Exército paquistanês.

Há cerca de um ano, procurei entrevistar outro “homem mais procurado do mundo”, o líder de um grupo que se acredita ser responsável pelo Massacre em Bombaim, Índia.

E o encontrei na cidade paquistanesa de Lahore, guardado por policiais paquistaneses à paisana armados de metralhadoras.

Claro que há várias perguntas não respondidas: Bin Laden poderia ter sido capturado? A CIA, os Seals da Marinha, as Forças Especiais dos EUA ou qualquer que seja o grupo militar americano que o matou não tinha meios de prender o tigre com uma rede? “Justiça”, declarou Barack Obama sobre sua morte.

Nos velhos tempos, porém, “justiça” significava um processo legal, uma corte, uma audiência, uma defesa e um julgamento. Assim como os filhos de Saddam, Bin Laden foi abatido. Certamente ele nunca quis ser capturado vivo, e havia baldes e baldes de sangue no quarto em que ele morreu.

Mas um julgamento traria mais preocupações para algumas pessoas do que o próprio Bin Laden. Afinal, ele poderia revelar os contatos que teve com a CIA durante a ocupação soviética do Afeganistão, ou seus encontros em Islamabad com o príncipe Turki, chefe da inteligência da Arábia Saudita. Assim como Saddam — que foi julgado pelo assassinato de apenas 153 pessoas e não dos milhares de curdos que matou com gás. Saddam foi enforcado antes que tivesse a chance de contar como obteve dos EUA as matérias-primas para fazer o gás, ou sobre sua amizade com Donald Rumsfeld e a ajuda militar que recebeu depois que invadiu o Irã em 1980. Nos anos depois de 2001, mantive uma fraca comunicação indireta com Bin Laden, tendo uma vez me encontrado com um de seus aliados da al-Qaeda no Paquistão. Escrevi uma lista de 12 perguntas, a primeira delas óbvia: que tipo de vitória poderia querer se suas ações resultaram na ocupação americana de dois países muçulmanos?

Não houve resposta por semanas até que fui informado de que a al-Jazeera tinha obtido uma nova fita de áudio de Bin Laden. E, uma por uma — e sem me mencionar — ele respondeu minhas 12 perguntas. E, sim, ele queria que os americanos invadissem países muçulmanos, para que pudesse matá-los.

Até agora, recebi três telefonemas de árabes certos de que os americanos só mataram um dublê de Bin Laden. E caberá à própria al-Qaeda esclarecer isso. Claro que, se estivermos errados e o morto for mesmo um dublê, em breve veremos surgir uma nova fita de ameaças do verdadeiro Bin Laden — e o presidente Barack Obama vai perder as próximas eleições.

ROBERT FISK é colunista do “Independent”

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CARLOS HEITOR CONY
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0805201105.htm

Corpo de delito

RIO DE JANEIRO - Os desavisados leitores que, por masoquismo, atentam para as minhas crônicas, devem estar lembrados de minha preocupação pelos ossos de Dana de Teffé, cujo corpo nunca foi encontrado, razão pela qual seu assassino não respondeu por nenhum processo.
Sem cadáver não há crime. O Brasil passou um ano procurando o corpo. Não houve osso de galinha ou de cachorro que não tenha sido examinado pelos institutos de criminalística.
Pulando de Dana de Teffé para Osama bin Laden, ficaremos mais ou menos na mesma situação. Jogaram um troço qualquer no mar, fica a critério de cada um acreditar na história.
Se aparecerem fotos, haverá suspeita de montagem, efeitos especiais etc. Pelas leis do direito penal, não servirão de prova juridicamente incontestável.
Os delicados pruridos de Barack Obama, poupando o olhar da humanidade de um cadáver mutilado, são discutíveis. Os atentados terroristas são exaustivamente publicados, com as autoridades sem o escrúpulo de chocar a sensibilidade dos povos.
Pelo que se sabe, nos últimos anos, o terrorista estava desativado, morando numa casa com mulheres e crianças, na hora em que foi descoberto estava desarmado. Parece improvável que daquele abrigo ele pudesse comandar, traçar a estratégia e o financiamento das operações criminosas.
Era um símbolo do mal, responsável pelo maior crime dos tempos modernos, comparável a um Hitler ou a um Stálin.
Estão abertas, a partir de agora, diversas teorias conspiratórias que alimentarão os fundamentalistas do terror. Obama declarou que a justiça foi feita.
Qualquer consciência condenaria Bin Laden à morte. Contudo, do jeito que ele morreu, não foi caso de justiça, mas de vingança pessoal.

AVE MARIA DA RUA

Em homenagem ao Dia das Mães, relembro esta música gravada por Raul Seixas, uma das mais completas canções que já ouvi. Letra, melodia, arranjo e interpretação convergem expressivamente e provocam uma tempestade à flor da pele e na raiz do coração. É para ouvir bem alto em caixas potentes.



Ave Maria da Rua
Raul Seixas
Composição : Raul Seixas/Paulo Coelho


No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração

Teu nome é Yemanjah (Yemanjah)
E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Oh, minha mãe
Minha filha tu és qualquer mulher
Mulher em qualquer dia

Bastou o teu olhar (Teu olhar)
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Ooooh, Ooooh!
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar
A barra de te amar

Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz,
Ooooh, Ooooh!
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente

Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão
Me assustar
Ooooh, Ooooh!

Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ooooh, Ooooh!

Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ooooh, Ooooh!
minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.