19 de setembro de 2011

O TEMPO NÃO PARA

Ingresso do Rock in Rio 85
O Rock in Rio 2011 está aí, 26 anos depois do primeiro, que marcou época. Boa hora pra fazer algumas reflexões e perceber algumas mudanças que ocorreram durante este tempo.

Em 85 as pessoas se comunicavam por carta e telefone (interurbano era uma fortuna), não havia msn, torpedos, blogues nada disso. A mídia alternativa consistia em jornaizinhos mimeografados (confira na Wikipédia o que é isto) ou xerocados (estes passaram a receber o nome de zines).
Quase não havia espaço na imprensa para o universo do rock, notícias sobre grupos, músicos e shows eram garimpadas com frenesi pelos novos e velhos cabeludos, com visual hippie ou metaleiro. Fotos? Nem pensar. Quem tinha algum exemplar da antiga Pop, colorida e repleta de fotos, era um privilegiado, dono de um capital capaz de chantagear qualquer um em busca de imagens e informação.
Neste período surgiram a Pipoca Moderna, Roll, Metal, Rock Brigade e depois a inesquecível Bizz, consequência direta do aumento do público (e consumidores) do mercado do rock. Blitz, o Rock Brasil, assim como o Rock in Rio e a sequência de shows que começaram a chegar aqui são a prova disto.
O festival mítico que habitava o consciente coletivo era Woodstock, mas isso já havia acontecido há 16 anos, e para minha geração, na casa dos 18, era um outro tempo, parecia outro planeta. São estas experiências que provam que o tempo não existe, o Verão da Paz e do Amor, um vácuo de 16 anos, estava muito mais distante de mim naquela época do que o "recente" Verão da Lata (1988) está para mim hoje.
O Brasil começava a transição para a democracia e a legalização dos outrora partidos clandestinos, que faziam nossa cabeça no movimento estudantil, anos antes. O carro brasileiro era "uma carroça", videogame era Atari, shopping não existia, pelo menos no brasilzão em que 99% dos roqueiros moravam. Ser roqueiro significava ser identificado pelo visual e comportamento, além das ostensivas capas dos elepês levados debaixo do braço pelas ruas da cidade. Elepês eram os discos de vinil que ouvíamos em aparelhos de som chamados 3 em 1 (rádio + tocador e gravador de fita cassete + toca-discos). Como se vê, mudou muito em matéria de tecnologia, mas os desejos eram um tanto parecidos, obter informação, gravar, trocar informação, formar grupos a partir das preferências etc. A indústria se sofisticou, o público aumentou, o país mudou, mas é engraçado esta sensação de que por um lado está tudo tão diferente e, por outro, tudo está tão parecido.

Um comentário:

  1. Queria ter vivido essa época... Um pouco saudosista da minha parte mas quero conviver com rockeiros como esses aí que você citou! O que eu vejo hoje é um monte de gente desencontrada, não sabe exatamente o que gosta, não sabe o que é rock in roll como antigamente isso era bem definido. Hoje infelizmente gostar de rock não denota atitude... virou modinha e faz parte dessa grande indústria cultural e as pessoas não se dão conta disso.

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