28 de abril de 2013

EXISTE VIDA LITERÁRIA NA REGIÃO SUL FLUMINENSE?



A pergunta do título não é fácil de responder, dentre outros motivos, pelo fato de que é certo que cada um tem uma concepção própria do que seria o ideal ou o desejável para uma região em matéria de “vida literária”. Para alguns, talvez este ideal seja viver em um lugar cujo índice de livrarias e bibliotecas se assemelhe ao de Paris, cidade que tem a cultura letrada como um de seus orgulhos históricos e como parte de sua própria identidade. Para outros, a constatação de que existam pessoas produzindo literatura e pessoas usufruindo dela talvez já seja um dado suficiente e satisfatório. 
Acredito que a segunda opção seja a mais “realista”, mais “comum” e por ela me pauto.
E, se alguém me fizesse a tal pergunta, arriscaria dizer que nossa vida literária “vai bem, obrigado”. 

As cidades de nossa região (Sul Fluminense) possuem bibliotecas municipais, além das pequenas e médias bibliotecas nas escolas. É certo que há escolas que possuem bibliotecas e/ou sala de leituras bem estruturadas, mas há aquelas em situação precária e, até mesmo, escolas sem espaços para a pesquisa e a leitura. Mas se levarmos em conta os programas de fomento do governo federal, que distribui regularmente livros de qualidade para as escolas de todo o país, notaremos que muitas vezes o problema é de administração e não de estrutura em si. É recorrente a queixa de caixas de livros que ficam fechadas nos depósitos e que não chegam às mãos dos estudantes. Mas quando há gente que resolve abrir as caixas e colocar os livros à disposição dos alunos, a coisa anda.
Livrarias temos poucas na região. Volta Redonda sai na frente, com pelo menos quatro livrarias, além das papelarias que também vendem livros e dos sebos de livros usados. Os sebos, por sinal, são um bom sinal de que a cidade lê e que os livros circulam. Como a “cidade do aço” é também a cidade do comércio e atrai consumidores de toda a região, pode-se imaginar que o mercado de livros é bem intenso e, aos leitores, não faltam possibilidades de aquisição de seus livros para estudos, deleite e entretenimento.
Mas e os escritores, e os profissionais e amadores da literatura, e os grupos, e os leitores? É aqui que a coisa fica mais interessante. Pois se do ponto de vista comercial ou das ações públicas estamos remediados, mas ainda débeis, em relação aos agentes culturais estamos bem servidos, embora muitos se sintam quixotescamente solitários, desconectados, ilhados.
            São várias as academias municipais de literatura que atuam intensamente, são vários grupos lançando livros coletivos, tem muita gente organizando saraus (Poesia em Volta – VR; Solidões Coletivas – Valença etc.), são vários os contadores de histórias, os blogueiros e, principalmente, os poetas e ficcionistas. Na semana passada entrei na principal livraria da minha cidade e fiquei muito feliz ao ver dois livros (bem editados, com capas atraentes) de ficção! Um suspense (de Tarcísio Cavalieri) e uma ficção científica e metafísica (de Ivani Egalon). Se a poesia sempre se fez presente, a prosa continua firme e cada vez mais atraente.
            Há anos desenvolvo uma pesquisa sobre a produção de poesia em Volta Redonda e isto já rendeu artigos acadêmicos e pesquisas riquíssimas em forma de trabalhos de conclusão de cursos. Regina Vilarinhos fez um belo painel sobre a produção poética dos anos 80, Braz Magaldi analisou o livro Bazar Brasil, de Rastero, e Monique Carelli se debruçou sobre A Terra é Azul, de Waldyr Bedê. Temos literatura e também estamos construindo a história dela.
            Diante desse cenário, de livros, leitores, autores, contadores de histórias, blogueiros, lojas e bibliotecas, por que será que ainda persiste uma sensação de que “nada acontece” no universo das letras locais? Bem, é isso que nos resta entender.
Talvez esta I Bienal do Livro nos ajude a decifrar este enigma. Pois, lançado o projeto, foi impressionante observar o interesse dos participantes, o voluntarismo despertado e a intensa aceitação e animação do público, agentes culturais e instituições pela realização deste evento.
            Talvez o que nos falte sejam mais exemplos como esse, isto é, que aconteçam mais eventos sobre literatura, a realização de prêmios voltados para ações locais na área literária, a presença da poesia, da crônica, do conto, da crítica nas páginas dos jornais da região, que lamentavelmente pouco aproveitam todo o potencial da coisa.
            Talvez o que esteja ainda faltando sejam esses “linques”, sejam formas de colocar autores, agentes e público reunidos em estimulante diálogo, em constantes trocas. A literatura é expressão e, principalmente, comunicação. E que esta comunicação signifique “ser comum”, “tornar comum”, “buscar a comunhão”, é isto que precisamos.

6 comentários:

  1. VC SE ESQUECEU DE MAIS UM LOCAL QUE VENDE LIVROS: AS BANCAS DE JORNAIS QUE TB VEDEM LIVROS A PREÇOS POPULARES!! PARABÉNS PELO TEXTO....ABRAÇOS...

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    1. Ah, sim, Marcos. As tradicionais bancas também contribuem bastante para a socialização do conhecimento. É verdade.

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  2. João Rodegheri28/4/13 10:12

    Ótimo texto. Conclusão perfeita! E essa "lincagem" dos diferentes interesses com certeza iria fazer a coisa crescer mais ainda!

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  3. Maravilhoso, erudito e visionário como sempre, parabéns!

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  4. Belo texto Fábio, infelizmente não pude comparecer pois estava vindo de uma jornada estafante em São Paulo onde realizamos o "Titeritada Brasileira" em Diadema que foi também um projeto de interiozação da arte do boneco e ocupação de um espaço degradado na periferia da cidade. A diferença lá e que o poder público em algum momento de lucidez espalhou centros culturais por toda a cidade, pratica que estamos a anos lutando para fazer em Volta Redonda e nunca avançamos nisso, tendo os equipamentos ocupá-lo fica bem mais fácil. Lá também eu fiz uma palestra que foi muito elogiada cujo título era " Os Deasfios da Formação do Titeriteiro Brasileiro" onde lancei a proposta de criação de uma escola técnica de teatro de animação em algum ponto estratégico do Brasil, tive que interromper o debate senão não sairíamos de lá.Quando for a Volta redonda fgostaria de reunir um grupo para discutirmos uma foram de ocupação do Flamenguinho. Assim que processar as fotos eu envio. Parabéns a todos pelo belo evento.

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    1. Gim, pois é, este caminho é que buscamos não é de hoje. E é preciso mesmo que haja uma cooperação entre poder público, iniciativa privada, agentes culturais e comunidades. É por aí mesmo.

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