7 de maio de 2014

A COR DA NOTÍCIA

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO
Os manuais de redação do grandes jornais sempre se preocuparam em zelar por um padrão de linguagem jornalística que fosse ético, civilizado, formal (sem ser pedante) e respeitoso com a variedade de leitores que forma seu público. 
Na era digital, algo novo aconteceu: o número de 'curtidas' e comentários sob as notícias passaram a funcionar como moeda simbólica, ou seja, passaram a ser capitalizadas de tal modo que quanto maior o número de comentários maior o 'sucesso' da publicação e do consequente potencial de merchandising da página. 
A consequência disto foi o fato de que não há qualquer tipo de controle sobre os comentários. Todo tipo de mensagem postada fica lá, para mostrar aos anunciantes o potencial da página. Por este motivo, os comentários viraram o registro mais absurdo, cruel e perigoso do universo da web. Qualquer notícia, a mais banal, é motivo para troca de insultos, para exibição de intolerância, para manifestação de selvageria verbal e ameaças de todo tipo. 
Em nome da 'liberdade de expressão', um eufemismo para 'vale tudo pela audiência', abre-se espaço para uma arena de ódio e violência e cria-se uma cultura da animosidade e do fascismo digital. A imprensa não pode, diante disso, fingir que não tem sua parcela de culpa e de responsabilidade. 
Esta semana fiquei mais surpreso ainda ao ler em uma página da tradicional Folha de São Paulo um parágrafo em que palavrões são registrados na íntegra.
Não cabe aqui discussão sobre o moralismo que determina e reprime o calão, mas é fato que a ética jornalística primava pela sensibilidade moral de seus leitores. 
Agora fica a dúvida: foi um descuido de redação (que poderia substituir a palavra por uma versão cifrada, com aqueles símbolos aleatórios) ou estamos diante de uma nova era do linguajar jornalístico? 
Até o século XX, denominavam-se de marrom ou sensacionalista os jornais que se dirigiam às camadas operárias e às massas urbanas ou os que adotavam o apelo à violência explícita, ao sexismo e à vulgaridade do mundo das celebridades. Será o marrom a cor da imprensa do XXI?

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