15 de junho de 2013

FUTEBOL

Adoro futebol. De todos os esportes que conheço, é o que acho mais completo, fraterno e humano. 
As habilidades necessárias para compor um time são impossíveis de se conseguir com apenas um biotipo. Daí que o futebol é acessível a baixos e altos, fortes e esguios, sem prevalência de um sobre o outro, uma vez que para cada posição ou situação um biotipo pode ser preferencial a outro, mas não é regra. Romário e Mauro Galvão estão aí, na memória de todos e nos arquivos na web, para provar minha tese.
O futebol, como todos os esportes, concentra sua beleza e sua grandeza nos aspectos simbólicos que ele produz. Mais do que detalhes técnicos e atléticos, o apreciador de esportes se encanta com o lado mitológico, com as metáforas e com os subtextos imaginados a partir de uma disputa. Quem já viu um atleta de uma nação rica (favoritíssimo antes da largada de uma corrida) ser vencido inesperadamente por um quase desconhecido corredor (representante de um país que muitos sequer conseguiriam apontar no mapa), conchece o tsunami de emoções que os esportes conseguem proporcionar. E, para mim, dentre todos, o futebol é o esporte que mais e melhor consegue metaforizar a experiência da vida humana. 
Há partidas de futebol que podem ser lidas como verdadeiros tratados sobre a espécie humana. Há em cada partida futebol, da final de Copa do Mundo à pelada de várzea de um domingo de sol ao meio dia, um número enorme de sentimentos, situações, conflitos e lições de vida. 
Talvez a explicação para o fato de nossa literatura de ficção tratar tão pouco do assunto, seja porque uma partida de futebol já é um romance em si, ou uma tragédia, às vezes até uma farsa. Mas o que não falta ali, nunca, é drama, a ação que se constroi na dinâmica das causas e consequências. Até partidas canceladas dão boas histórias.


Durante boa parte da minha vida (de 8 aos 32 anos) o futebol serviu de marco histórico para minha memória (horrível, diga-se). Para lembrar um fato eu sempre apelava para as datas das Copas do Mundo em busca de uma referência.
1974 - a primeira que lembro, 78 -primeira vez que vi um jogo colorido e primeira vez que bebi rum, aos doze anos, 82 - ali aprendi que os sonhos sucumbem à fria razão dos fatos e que a vitória não é uma consequência óbvia da genialidade, 86..., 90..., 94..., até o fatídico 1998, lição que aprendi sobre o quanto os interesses alheios ao futebol em si podem interferir (e interferem) no resultado de uma partida, de uma competição e quanto isto pode iluminar ou ferir a alma de uma nação. 
A vida de qualquer pessoa pode ser ilustrada com alusões aos lances do futebol. Um amor não correspondido, uma doença trágica, uma surpresa arrebatadora, tudo que acontece na vida das pessoas possui seu correspondente ludopédico (o nome científico da coisa). Nas bandeiras, nas camisas, no boteco ou arquibancadas, no almoço de domingo e na tela da TV, na beirada do campo gritando em êxtase ou fúria, ou lá dentro do campo com o rosto colado na grama ou suspenso no ar em busca do cabeceio certeiro... a vida está ali, em toda sua riqueza e complexidade. No futebol, a grandeza e a miséria humanas estão separadas por uma fina marca de cal.
Eu amo futebol. Não só pela simbologia e paixão, que são seus pontos mais fascinantes, mas pelo jogo em si, por seus componentes táticos, técnicos, plásticos. Não preciso que meu time esteja em campo para acompanhar com interesse o desenrolar de uma partida.
Mas do lado oposto ao pathos (a paixão, o sofrimento) encontra-se a ratio (a razão fria e desinteressada). E meu lamento nesses dias de festa no futebol brasileiro é que toda a magia desse esporte sucumba diante da lógica gananciosa dos chamados patrocinadores, um eufemismo utilizado para nominar aquelas pessoas que só enxergam lucro, exploração e vantagens onde o ser humano normal enxerga desejo e paixão.

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