1 de maio de 2014

A POLÍCIA DO PENSAMENTO

Esta semana foi pautada por dois fatos ligados ao preconceito racial: a banana jogada para Daniel Alves e as declarações do executivo da  NBA, Donald Sterling. 
Fonte da imagem: http://www.framingthedialogue.com/archives/thinkpol-think-poll/
O primeiro caso deu no que deu. Uma ação para lá de condenável, flagrante crime de intolerância, foi respondida à brasileira por Daniel Alves e gerou um slogan bacana (por sua ousadia, pela carnavalização e pela dialética da reação): "somos todos macacos". Mas o que poderia em outras épocas soar como marco de uma nova etapa na relação com os atos de racismo chafurdou no pântano do oportunismo, do pseudo-ativismo e da cada vez mais presente domesticação midiática. O que fica do episódio não são seus aspectos positivos, mas  justamente o seu lado farsesco e deletério. Lamentável.
O segundo caso me deixou ainda mais perplexo. O executivo expressou uma postura racista? Claro que sim. Isto justifica sua condenação pública, penal e econômica (multa de  2,5 milhões de dólares!)? Aí já cabe discussão. Por quê? Ora, pelo que entendi, o que ele falou foi em uma conversa privada com sua namorada. E isso faz toda a diferença.
A maioria das pessoas - acredito eu - discorda de Sterling, quando ele diz para sua namorada que não acha certo ela postar fotos ao lado de negros (Magic Johnson, no caso) e pede para que ela não leve negros para os jogos (pelo que entendi, especificamente para a área reservada ao executivo). Esta atitude é, sem dúvida alguma, preconceituosa e condenável. Mas - aí entra a questão central - uma pessoa deve ser proibida de pensar assim no plano privado? O pensamento racista - enquanto pensamento, ideologia e não manifestado publicamente, nem praticado contra outrem - deve ser motivo de penalização? Será que devemos ser condenados pelo que pensamos? 
O que ainda me incomoda mais é que o site (TMZ) que divulgou o áudio da conversa particular sequer é motivo de questionamento. Como o TMZ teve acesso ao áudio? Este acesso foi feito de forma legal ou ilegal? É correto e legal divulgar uma conversa particular?
Insisto: Sterling é uma pessoa que pensa de um modo com o qual eu discordo profundamente, mas eu não acho que temos o direito de punir as pessoas que "pensam" coisas que achamos condenáveis moralmente ou eticamente. 
Se a polícia do pensamento (Orwell ficcionaliza isto em 1984) for consentida e oficializada pela sociedade, estaremos entrando em uma etapa de totalitarismo travestido de democracia que implicará em graves consequências. 

Um comentário:

  1. Acredito que "totalitarismo travestido de democracia" é quase uma realidade já. E o principal problema é que nós, o povo em geral, somos os principais espiões, juízes e algozes. Mijou fora do "penico" da mediocridade, tá ferrado. Ou é ostracismo ou linchamento ideológico na certa.
    Abração, meu brother!

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